About Benfica: Vítor Paneira, o extremo imprevisível que acredita neste Benfica cheio de mística

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Vítor Paneira, o extremo imprevisível que acredita neste Benfica cheio de mística

 
Foi jogador e Campeão no Benfica entre 1988/89 e 1994/95. No lado direito deixava adversários para trás e cruzava com conta, peso e medida para o golo. Em exclusivo ao Site Oficial, em dia de aniversário, partilhou histórias de “tempos antigos” e revelou esperança na conquista do Penta. 

Vítor Paneira, o eterno 7 da Luz, celebra, esta sexta-feira, 52 anos e, numa entrevista ao Site Oficial do Clube, atravessou a passagem pelo Benfica entre 1988/89 e 1994/95, onde apontou 44 golos em 289 jogos. Recordou histórias como o primeiro ano de águia ao peito; elogiou Toni, Eriksson e a obra feita por Luís Filipe Vieira; assinalou o peso do Terceiro Anel no antigo Estádio da Luz e mostrou-se crente no trabalho de Rui Vitória e na conquista do Penta.

Sabe que dia é hoje?
Faço 52 anos.
Uma vida cheia de memórias…
Tenho memórias, mas não sou de as ter na cabeça. Se puxarem por mim, vou buscá-las.
Então posso começar a puxar por si?
Pode, sim.
Um dia antes do seu aniversário, há 29 anos, estava a marcar um golo por Portugal no antigo Estádio da Luz ao Preud’Homme.
Pois foi! No dia a seguir veio nos jornais: “Vítor Paneira dá uma prenda”. Já me estou a lembrar. Empatámos 1-1, não foi?
Foi isso mesmo!
Recordo-me bem. Tenho esse jogo na memória. Mas lesionei-me nesse jogo.
Não foi uma boa forma de entrar no aniversário.
Fiz um grande jogo. Portugal fez um grande jogo, mas sofremos um golo um pouco estranho no fim e acabámos por empatar.
Outra memória! Esteve no Benfica durante sete épocas. Chegou em 1988/89. Ainda se lembra?
Claro que sim! Número 7, 7 anos.
Foi Campeão Nacional no ano em que chegou.
Fomos sim. A consagração foi com o Boavista. Depois voltámos a ser Campeões em 93/94 antes daquela altura em que tentaram “matar” o Benfica.
Vítor Paneira
Como era o Benfica naquela altura?
Ainda bem que, passados quase 30 anos, o Benfica volta a recuperar a mística vencedora, de Campeão… Apanhei os últimos sete anos do que era verdadeiramente a mística do Benfica, que se foi perdendo, diria eu, durante uma porrada de anos. Era um Benfica que só pensava em ganhar. A nossa mentalidade, desde o primeiro minuto, era sempre a de ganhar; não tínhamos outra palavra que não fosse vencer ou jogar para ganhar, fosse que adversário que fosse. O resultado de 1-0 não nos acomodava, queríamos sempre mais; o público era muito exigente. A média nos jogos do Benfica era de 80 mil pessoas. Qualquer jogo do Benfica, em casa, tinha entre 75 a 90 mil pessoas. Havia uma exigência muito grande e um respeito incrível pelo Terceiro Anel. A vénia era feita mesmo perto do Terceiro Anel. Ali, ou se gostava ou não. O Benfica desse tempo era assim: desde que entrávamos, o nosso pensamento era sempre de ganhar. Num momento de muita confusão no futebol português conseguimos dividir os campeonatos com o FC Porto. Tínhamos grandes equipas, o FC Porto também tinha. O Sporting entrava como candidato, e será sempre, mas não discutia, nessa altura, nada connosco. Éramos só nós e o FC Porto. Havia muitos portugueses no balneário e sentia-se… Isso ajudava a que a mística fosse trabalhada e imposta. A forma como acarinhávamos os jogadores que chegavam… Havia um peso muito grande dos jogadores em deixar uma mística ganhadora. Quando se pensa no Benfica, pensa-se em vitória, e não era por poucos. Era o que havia antigamente e que está de regresso.
Muito diferente de um Famalicão ou de um Vizela para um jovem de 21 anos, na altura.
Foi! Estamos a falar em realidades inimagináveis. Jogar no Famalicão, o clube da minha terra, onde comecei a jogar. E depois fui para o Vizela antes de ir para o Benfica, tudo muda. Entra-se numa realidade diferente. No Benfica era tudo preparado ao pormenor, a dimensão, a exigência, a forma de irmos para os jogos. Por exemplo, ainda há pouco tempo recordava com o Carlos Marta, um amigo que foi presidente da Câmara de Tondela. Ele jogava no Ac. Viseu e lembrava a ida do Benfica a Viseu para jogar. Era um fim do mundo de pessoas na rua. Nunca tinha visto aquilo. Ganhámos lá 0-1.
“Ainda bem que, passados quase 30 anos, o Benfica volta a recuperar a mística vencedora”
Ainda apanhou o Ac. Viseu na 1.ª Divisão.
Sim, uma temporada. Tenho essas imagens na cabeça de chegarmos aos estádios; os treinos em que estavam duas a três mil pessoas; os jogos em que havia pessoas em cima do gradeamento para ver o autocarro chegar. Tudo isso fazia com que entrássemos de uma forma diferente.
O Benfica e os jogadores sentiam que já entravam a ganhar.
Sim, há uma série de histórias que poderia relatar, tal como os meus colegas. Bastava a entrada para o aquecimento e notava-se que as equipas ficavam intimidadas. Quando entrávamos para o início do jogo, era incrível. O Terceiro Anel entrava em erupção. Fazíamos a vénia e estávamos arrepiados. Só vivendo.
Impôs-se logo no primeiro ano. Jogou 40 partidas oficiais e foi campeão. Surpreendeu-o?
Vim da 2.ª Divisão, não tinha credenciais. O Benfica comprou o meu passe como comprava de tantos outros em que via talento. Estive um ano no Vizela a preparar-me para o Benfica. Fui dos melhores marcadores da equipa e as minhas exibições foram de encher o olho. Fui acompanhado, em especial pelo saudoso Peres Bandeira, que tinha um carinho especial por mim. Tive sorte – que é preciso tê-la – e tive o Toni que apostou, claramente, em mim. Pensava que chegava lá e era mais um que ia ser emprestado, mas a Direção foi perentória e disse que não ia sair. Fiz parte do plantel, fui começando a perceber, realizei jogos de pré-época. Depois, o Toni tinha a preocupação de não lançar os jovens de qualquer maneira no Estádio da Luz, pois muito jogador “morria” nesse primeiro jogo. Cheguei a presenciar uma ou duas situações de jovens a jogar no Estádio da Luz que “morreram”, porque era traumático. O Terceiro Anel tinha um peso inacreditável. O primeiro jogo foi em Espinho, empatámos 2-2, porque adiámos o jogo com o Penafiel da 1.ª jornada. Depois jogámos em casa com o V. Guimarães que empatámos 0-0 e o Silvino defendeu uma grande penalidade; seguiu-se uma eliminatória da Taça UEFA com o Montpellier, ganhámos 0-3 e, aí, eu jogo 20 minutos, construí o terceiro golo e deixei uma boa imagem. Depois vamos a Portimão, o Toni mete-me na equipa principal, ganhámos 0-1 e fiz um bom jogo. Chegou o jogo em atraso com o Penafiel e quem ia jogar era o Abel Campos, mas ele fica com gripe. O Toni vem ter comigo e pergunta: “Vitinho, estás preparado?” Respondi que estava e joguei. Foi assim o início da minha história no Benfica.  
Por falar em história… E aquela história do serviço militar, em que foi preso?
Tinha que me apresentar até à uma da manhã de domingo para segunda-feira, mas apresentei-me às 10h00 de segunda-feira com o advogado da altura, João Rodrigues, que foi presidente da Federação [Portuguesa de Futebol], no Porto. Queriam que ficasse, que fosse castigado uns fins de semana, mas o João Rodrigues entendeu que não, que fosse para tribunal. O problema é que as Leis militares nada têm a ver com as Leis civis e acabei por ser penalizado com quatro meses de prisão. Cumpri metade por bom comportamento e segui a minha vida. Eu não fugi, apresentei-me mais tarde.
Vítor Paneira
Está no Benfica até 1994/95 e no final dessa época sai para o V. Guimarães…
Tínhamos sido Campeões em 93/94…
Como era o Benfica nessa altura?
Quando fomos Campeões disseram que tinha sido com sorte. Há, ainda, a equipa de 1992/93 que ganha a Taça de Portugal ao Boavista e que é, considerada por muitos, a equipa de sonho do Benfica. Para além de mim, havia Futre, Rui Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Isaías, Rui Águas, Pacheco… Era um Benfica que tinha sido Campeão na época a seguir com muita dificuldade após o Verão Quente. Esse campeonato faz-me lembrar o que vivemos há dois anos, em que o Benfica estava na luta com o Sporting. A Família Benfiquista teve de se unir em prol de um objetivo. Conseguimos ganhar esse campeonato, o Toni sai, vem o Artur Jorge e foi um ano para esquecer. Foi aí que começou o descalabro do Benfica. Desfaz-se uma equipa campeã, problemas constantes, valia tudo e acabei por ser eu e muitos colegas a sofrerem. Seguiram-se 11 anos sem títulos e um deserto de tudo. Até à entrada do nosso Luís Filipe Vieira.
Vítor Paneira
Já falou de Toni, mas foi também treinado por Ivic, Eriksson, Artur Jorge…
Todos merecem a minha atenção. Se me pergunta quais foram os que me marcaram mais, tenho de dizer Toni e Eriksson. O Ivic era uma excelente pessoa e percebia muito de futebol; de uma maneira menos positiva, mas em que aprendemos também, Artur Jorge, naturalmente.
E daí seguiram-se 11 anos sem ser Campeão. Mesmo no V. Guimarães como via o Benfica nessa altura?
Há uma zona cinzenta em tudo na vida, em que preferíamos esquecer. Diria que, na história do Benfica, esse é o momento cinzento. O Benfica não teve grandes equipas, muitos jogadores não eram jogadores à Benfica, coisa que o Clube havia tido capacidade para ter até àquela altura. No meu tempo, o Benfica tinha quatro jogadores de seleção brasileira: Mozer, Ricardo, Valdo e Elzo. A seguir vem o Aldaír. Jogadores de primeira linha do futebol mundial. Essas eram equipas muito fortes. Naqueles 11 anos houve 2/3 jogadores à Benfica. O João Pinto, por exemplo, mas o resto não estava à dimensão do Clube.
“O Toni vem ter comigo e pergunta: “Vitinho, estás preparado?” Respondi que estava”
E hoje? Como o vê?
Acompanhei sempre o Benfica, sou Benfiquista, sempre fui e todos sabem. Agora vejo um Benfica ganhador, com mística, nas decisões, a jogar para ganhar e… a ganhar! Acima de tudo, o Benfica tem jogadores de qualidade, que é o que faz a diferença. Há uma série de anos para cá, com Luís Filipe Vieira, o Benfica tem grandes plantéis, com jogadores de classe mundial. O Benfica está de volta aos tempos antigos e é para manter. Hoje, o Benfica é uma equipa temível, não só em Portugal, como na Europa, com a presença nas finais da Liga Europa, tal como no meu tempo em que estivemos em duas finais da Taça dos Campeões em três anos. O objetivo do Benfica é vincar uma posição em termos internacionais e é um “Benfica à Benfica”, que é forte, grande, intimidador, ganha e tem a mística vencedora.
Então acredita no Benfica Pentacampeão?
Acredito, sim! Sempre acreditei.
Já elogiou Toni, Eriksson, Ivic… E Rui Vitória?
Tenho uma opinião muito boa sobre Rui Vitória. É um excelente condutor de homens, que merece. Trabalha, tem o grupo com ele e isso é importante. É um homem tranquilo, que transmite a grandeza do Benfica no seu discurso. Nem sempre temos de ser agressivos e criar rivalidades sem necessidade. O seu discurso é respeitador para com os adversários. É um treinador à dimensão do Benfica.
Vítor Paneira
Para ser Penta é preciso ultrapassar o Boavista no sábado. Enfrentou-os em 10 ocasiões pelas águias. Há algum que recorde com saudade?
A final da Taça de Portugal em que marquei o primeiro golo.
E o 2-3 no Bessa debaixo de um dilúvio com o Paulo Sousa a ir para a baliza?
Sim, recordo-me desse. Jogámos com menos um, o Paulo Sousa foi para a baliza e ainda fez uma grande defesa. Há coisas que recordamos. Ganhámos 2-3! Foi um jogo incrível, de sofrimento, mas conseguimos. Só mesmo grandes equipas, com grandes jogadores e grande mentalidade é que conseguiam ganhar no Bessa. Era terrível jogar lá. Ainda bem que os estádios têm hoje outras condições.
“[Com o Boavista] espero um Benfica a entrar forte”
Esse Boavista foi treinado, essencialmente, pelo Manuel José. Como via esse Boavista e o compara com o atual?
O futebol está completamente alterado. O Manuel José jogava com três defesas, foi ele que começou a implantar esse sistema com mais sucesso em Portugal. É um treinador que todos admiramos no futebol. Ainda hoje é frontal, correto, honesto… Era muito difícil bater as equipas do Manuel José, porque jogavam muito bem. O Boavista tinha jogadores de grande qualidade. Este Boavista é diferente, está a encontrar-se. O clube passa por dificuldades há muitos anos. Vi o jogo do Boavista, neste fim de semana, com o V. Guimarães. A equipa jogou bem e mereceu a vitória. O Boavista é uma equipa que se pauta pelo equilíbrio, competitiva, forte na transição, na bola parada e nas segundas bolas. Aliás, o Boavista trabalha muito para ganhar as segundas bolas. O Benfica, com certeza, estará preparado.
E para sábado, o que espera?
Espero um Benfica a entrar forte, a comandar o jogo. O Boavista vai ter de ripostar, pois nada tem a perder. Irá jogar descontraído. Ainda assim, se o Benfica for competente, entrar de forma agressiva e tiver atenção às segundas bolas, vencerá de forma natural.


FONTE: SITE SLBENFICA

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